Uma vez eu estava na fila do caixa de uma loja de roupas. Esperava atrás de uma senhora que estava acompanhada de sua filha iniciando a adolescência. Eu estava com uma blusinha na mão e esperava tri faceira a minha vez.

A menina da minha frente se afastou e foi olhar algumas roupas em um cabide próximo. Não muito tempo depois, ela voltou com uma peça de roupa em mãos e perguntou para sua mãe: “mãe, vou levar mais essa daqui tá? O problema dela é que o tamanho é G”. A mãe puxou a blusa da mão da menina e disse enfurecida: “bem capaz que filha minha vai usar G! G é para gorda!” Então olhei para a etiqueta da peça que estava prestes a comprar e  nela dizia XGG.

Por um instante me senti supermal. Fiquei infeliz, era como um pedaço de pano sujo e estava prestes a chorar. Queria ter saído correndo e começar uma dieta naquele mesmo momento. Vim para casa, com a roupa nova e também com o peso extra do meu corpo e com o peso das palavras daquela senhora.

Mas depois de um tempo eu entendi. Passei a me perguntar: como uma mãe tem coragem de dizer isso para sua filha? Para uma pessoinha que está passando por uma fase de formação de caráter e decisões. Meu problema não era o M ou G ou GG do tamanho da minha roupa, a indignação era com a atitude daquela senhora! Como pode ser tão escrava de um padrão de beleza? Ao meu ver, a senhora está dizendo para a filha que se ela fosse diferente do padrão não teria mais filha. E ser ou estar gorda é ser doente.

Me senti indiretamente agredida. Por que  o tamanho do corpo de uma pessoa incomoda tanto as outras? Por que eu sou errada na sociedade? Simplesmente conclui que a saúde da sociedade está mais doente do que a minha saúde, do que a saúde de um gordo.

Sou do jeito que sou e sou bonita do jeito que sou. O meu 48 de calça nem o meu XGG da minha blusa não definem meu caráter. Sei que a ideologia imposta pelo marketing é muitas vezes mais fortes que o nosso próprio pensamento, mas acho que já está na hora de ensinar nossos filhos a aceitar quem eles são. O número da roupa não muda a pessoa interior, mas educar para não aceitar o diferente só encadeia um loop infinito discriminação. É hora de ensinar objetivos de vida e não a sonharem com uma vida de aparências.

Só sei que meu objetivo é ser feliz e claro, nunca usar G. Ou seja, usar o que eu quiser e o que eu puder.